Ultimatum, Dictator e jogos psicológicos do Superfreakonomics: os seres humanos são generosos ou egoístas por natureza?

Uma crença que nos limita demais no acúmulo de riqueza é a convicção de que as pessoas são egoístas e más.

Quem parte de uma crença desta natureza obviamente terá dificuldade em confiar em parceiros de negócio e empregados para iniciar seus próprios negócios. Ou mesmo de aceitar um favor ou pedir por ajuda.

A história deste post vem de Steven Levitt e Stephen Dubner no livro Superfreakonomics: o lado oculto do dia a dia (link afiliado).

Um jogo psicológico chamado Ultimatum era um experimento de laboratório que consistia em usar dois voluntários, que permaneciam anônimos. O objetivo do jogo é dividir uma quantidade de dinheiro. A primeira pessoa (vamos chamar de Ana) recebe vinte dólares na mão e pode dar para a outra pessoa qualquer valor, desde zero até vinte (totalidade). A parte interessante é que a segunda pessoa (vamos chamar de Zelma) é quem decide se a oferta será ou não aceita.

Se Zelma aceitar, a divisão é realizada. Mas se Zelma rejeitar a proposta de Ana, então ambas voltam para casa de mãos vazias. As regras são explicadas no começo do jogo.
Analisando o jogo por uma perspectiva racional do homo economicus, mesmo um centavo é melhor do que nada e assim Zelma poderia aceitar qualquer proposta que não seja zero. Deste modo, para maximizar o lucro, Ana deveria em teoria oferecer um centavo e ficar com 19.99.

Mas não é isso o que aconteceu na prática. Geralmente as Zelmas que participaram do experimento rejeitavam propostas inferiores a 3 dólares. Além disso, na média, as Anas ofereciam mais de 6 dólares, o que é quase um terço do valor de 20 dólares.

Alguém poderia argumentar que o motivo de oferecer uma quantia generosa dessas teria sido para neutralizar o risco de rejeição de Zelma. No caso, não haveria altruismo ou generosidade, mas sim um motivo egoísta de querer manter pelo menos dois terços do dinheiro sacrificando um terço.

Por isso, os cientistas fizeram um novo experimento, que chamaram de Dictator. Novamente, uma quantia de dinheiro deveria ser dividida entre duas pessoas. Mas a diferença é que apenas uma decidiria, e, por isso, a referência ao ditador no nome do experimento.

Nesse novo caso, Ana recebia 20 dólares, e poderia fazer a divisão em duas formas distintas: ou ela dividiria meio a meio, dando 10 dólares para a outra participante, ou ficaria com 18 e daria 2 (10%) para Zelma.

E o resultado? 75% dos participantes que assumiram o papel ditador de Ana resolvei dividir meio a meio. Veja que neste experimento, a ganância não seria punida, pois Zelma não tinha o poder de aceitar ou rejeitar, e os participantes eram anônimos.

A conclusão dos experimentos é que os seres humanos parecem ser naturalmente projetados para a generosidade e altruismo. A idéia tradicional do Homo economicus que busca o lucro sem se importar com outros aspectos parece errada. A própria quantidade de pessoas que contribui de graça com seu tempo e expertise para formar a Wikipedia é mais um indicativo disso.