Consumismo e formas de expressar amor

Primeiramente, parabéns a todas as amigas pelo Dia Internacional da Mulher!

E nesta terça feira de Carnaval, convidei minha mãe e a namorada para tomar um café após o almoço, aproveitando o feriado. Foi um momento bem gostoso e que me fez lembrar de uma coisa que acho interessante principalmente em famílias italianas: a macarronada da mamma… e como uma refeição se transmuta em forma de expressar amor.

Quem come a macarronada da avó ou da mãe não está apenas se alimentando. Está recebendo um ato de amor, de dedicação. É como se a mãe dissesse “Veja só como te amo, como eu caprichei para entregar esta deliciosa macarronada!”

E, por sua vez, o resto da família come fazendo aquele hmmmmmmmm gostoso, despejando vários elogios. Família feliz.

Nessa convenção cultural, essa é uma forma aceita e esperada de demonstrar amor. Uma nova nora que não saiba cozinhar (e não se importe em aprender) geralmente é vista com ares de preocupação pelas matriarcas. Se o filho não repete o prato, isso significa que além da comida não ter ficado boa, houve uma rejeição do amor materno.

Logicamente que estou exagerando, mas muita gente deve ter vivido uma situação parecida.

Foi com essa alegria de misturar o ato de alimentação com uma demonstração de amor que eu paguei a conta de nosso café da tarde. É interessante como existem várias formas de expressar esse carinho.

Cada forma revela um diferente grau de consumismo: numa escala simplificada, poderíamos ter:

Nível 1: Criatividade + baixo consumismo

  • Preparo caseiro de uma “macarronada da mamma”.
  • Passar bons momentos juntos, conversando, ouvindo, conectando num nível maior do que aquela conversa apressada da rotina. Seja em um por do sol, numa caminhada, numa varanda de quintal.
  • Uma atividade, como aprender juntos a fazer uma massagem. A dançar. Cantar. Dedicar um dia a um voluntariado. Visitar uma pessoa querida que não vemos faz tempo.
  • Criar algo (um vídeo, um caderno com poemas e colagens, um CD com músicas, um cartão com uma bela mensagem).

Nível 2: Comportamento padrão + consumismo médio

  • Pagar a conta de um restaurante.
  • Ir pro cinema e tomar um sorvete.
  • Lembrancinha / presente simples. Flores.
  • Viagens rápidas (bate-volta).

Nível 3: Mercantilização e consumismo borderline

  • Presentear com eletrodomésticos (eu lembro de um cara que deu um televisor de plasma pra namorada no Dia dos Namorados).
  • Assumir dívidas exorbitantes para fingir ter um lifestyle de um padrão incompatível. É o famoso comer mortadela e arrotar peru.

Lembro que em certos aniversários ou época de Natal, quando eu era criança, muitos adultos que vinham me presentear acabavam dando um envelope com um dinheirinho, para que eu pudesse comprar o que quisesse. Seria essa uma mercantilização consumista? Não.

Entendo que nesse ato havia muito amor. Apenas era um medo de ser inadequado. Entre o mundo dos adultos e o universo das crianças, existe uma dificuldade em saber qual é o brinquedo do momento ou se aquela roupa é cool ou algo que causará vergonha alheia entre os coleguinhas de escola.

Apesar de para nós, homens, ser uma dura tarefa escolher um presente que atenda ao gosto feminino, eu ainda acho melhor arriscar um presentinho ou chamar para um restaurante (nível 2). Confesso que é uma opção muito mais rápida do que o nível 1.

Mas fico sempre com a impressão de que no nível 1 é onde temos uma maior qualidade nessa celebração. Dedicando mais tempo para uma experiência mais memorável e pessoal. O que você acha?

E quero me manter longe do nível 3.

Será que ainda é possível demonstrar amor mantendo um distanciamento saudável do consumismo?