Oi! Seiiti Arata. Dizem que foi Hemingway é autor da frase “escreva bêbado, edite sóbrio”. Aparentemente, esta é uma das falsas citações que circulam pela internet e a própria neta do escritor confirma que ele nunca escrevia enquanto estava bêbado.
Pra podermos comentar esta frase, primeiramente temos que entender que se trata-se de uma frase metafórica ou algo que é pra ser levado ao pé da letra.
1. Pare de glorificar a bebedeira!
Com relação a beber álcool ao pé da letra, sempre lembre-se de que existem limites entre o que é saudável ou não. As pessoas que tem problemas com álcool obviamente devem buscar ajuda.
Não queremos glorificar a ideia de ficar bêbados. Apenas quem conhece pessoas que tiveram problemas com álcool sabe como isso pode ser devastador. Eu já tive problema com álcool quando tinha vinte e poucos anos e falo por experiência própria. É uma grande burrice romantizar a bebedeira.
Além disso, apenas o fato de beber não significa que a pessoa se torna altamente criativa. Se você encontrar a biografia de algum grande escritor que bebia enquanto escrevia, o que deu a ela o patamar de excelência não era a bebida, mas sim o mero fato de estar constantemente escrevendo e buscando a melhoria.
Vamos acabar com essa ideia de que para ser criativo precisamos ser meio malucos, bêbados vou estar em um estado mental alterado.
É verdade que grandes obras artísticas foram produzidas a partir de sofrimento e de emoções fortes. Isso não significa que temos que replicar ou artificialmente induzir esses estados alterados para conseguir criatividade.
Mas e se interpretarmos a frase “escreva bêbado, edite sóbrio” de maneira metafórica? O que isso significa?
2. Separe as fases de criação e de edição.
O que desejamos no processo criativo é entender que existem dois momentos distintos: a criação e a edição.
Na criação, a liberdade é muito importante. Não queremos ficar demasiadamente críticos, pois, isso dificultaria a criação. Imagine se nós criticamos cada ideia que temos, ficamos com a tendência de paralisia.
Muitas boas ideias apenas surgem depois que ideias fracas são produzidas. Deixe sua mente fluir mesmo que os primeiros resultados não sejam os desejados.
Por isso é importante o segundo momento no processo criativo para fazer uma análise crítica. E então realizamos as melhorias, refinamentos, corrigindo problemas e eliminando aquilo que não tem boa qualidade. É a fase de edição.
“Escreva bêbado, edite sóbrio” seria então uma maneira de dizer que devemos criar livremente e revisar com cuidado.
3. Não dependa da musa inspiradora.
Existe um mito da criatividade de que para produzirmos algo criativo é necessário que venha uma musa inspiradora. Que um recurso externo seria necessário.
E isso alimenta a ilusão de que precisamos de estar bêbados para criar. Quem usa a razão sabe que não faz sentido entregar o controle da própria vida para elementos externos imprevisíveis.
Quando olhamos algum profissional criativo que faz coisas incríveis aparentemente sem esforço, parece que algum tipo de talento místico está envolvido. Entretanto, nós não sabemos qual foi todo o processo de treinamento pelo qual eles passaram até chegar naquele nível de excelência.
Quando lemos o trabalho de um excelente escritor, podemos acreditar que ele se valeu de uma criatividade além do nosso poder de compreensão. Por isso a ideia de escrever bêbado parece fazer sentido. Nenhuma pessoa em estado sóbrio conseguiria tanta criatividade!
Mas isso não é verdade. Escrever é um trabalho como qualquer outro e o talento visível é resultado de grande dedicação e comprometimento e também prática para refinar a habilidade.
Uma ideia infantil é querer criativo sem ter que pagar o preço do comprometimento e praticar as dezenas de milhares de horas necessárias para refinar as habilidades até deixar o talento florescer.
O trabalho criativo é um trabalho sério como qualquer outro.
Quem acredita que depende de estar inspirado para produzir e trabalhar é alguém que não assume controle do processo criativo e vai procrastinar.
4. Não busque perfeição na primeira tentativa.
Se você deseja que o resultado do seu trabalho seja perfeito na primeira tentativa, provavelmente você vai procrastinar. Ou ficará paralisado. Não vai tentar fazer nada, pois será praticamente impossível que tudo saia certo na primeira tentativa.
Não confunda a identidade de quem você é e a qualidade do seu trabalho. Você não é o seu trabalho. Se você produz um primeiro rascunho que tem péssima qualidade, isso não significa que você é um péssimo profissional ou uma péssima pessoa. Não atribua identidade com base no seu trabalho.
Muitas pessoas levam ao pé da letra a ideia de escrever bêbado e editar sóbrio. Lembre que o álcool e qualquer outro tipo de vício pode destruir a nossa vida e a de quem está ao nosso redor.
Mesmo quando entendemos que “escrever bêbado” é uma metáfora, fica a impressão de que a criatividade é algo que está além do nosso alcance normal e que precisamos estar alterados. Lembre sempre que a criatividade é resultado de trabalho e esforço.
O trabalho artístico é um trabalho que precisa de dedicação. Ficar doidão não vai deixar você mais criativo. Só ajuda você acreditar na ilusão de que você está mais criativo.
Ficar esperando que a criatividade apareça na forma de uma musa inspiradora é um sonho infantil. É querer algo a troco de nada.
Se você deseja ser criativo, pare de procurar por atalhos e por clichês e coloque a mão na massa e comece a praticar agora.
Provavelmente os primeiros trabalhos e resultados não serão do seu agrado. Continue refinado, continue melhorando, continue editando. É a melhoria contínua que vai ajudar você.
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