Como falar sozinho sem ser louco

Oi! Seiiti Arata. Quando você encontra alguém falando sozinho, parece que essa pessoa está louca, não é verdade? Mas falar sozinho é uma prática normal que todo mundo faz…inclusive você. E essa conversa privada tem várias utilidades, inclusive para aumentar o seu foco e concentração.

Você pode conversar com você mesmo apenas em pensamento (sem mover os lábios) ou você pode falar em voz alta. Dá na mesma? Nem sempre. 

Os nossos pensamentos e a nossa fala não estão totalmente conectados e por causa disso nós conversamos sozinhos. E essa conversa privada ajuda a fazer pontes entre os nossos vários pensamentos caóticos e a nossa fala que é um pouco mais organizada. É assim que nós melhoramos a nossa cognição, criamos frases e nos comunicamos.

Você se concentra melhor quando fala sozinho corretamente.

Primeiro vou te contar um experimento científico. Se você fica falando coisas sem sentido (blablablabla) enquanto estuda, você tem menores chances de processar e absorver a informação. Para ir mais a fundo você pode pesquisar estudos sobre supressão articular.

Isso é óbvio. Se eu fico falando coisas sem sentido no meio do meu estudo, é óbvio que a minha retenção é pior. Mas eu precisei te contar isso para te passar uma dica prática que é exatamente o oposto. Se você verbalizar frases relacionadas com a tarefa que está fazendo, você melhora a sua concentração.

É importante você se referir a si mesmo na terceira pessoa. (147) - Seiiti Arata, Arata Academy

Por exemplo, quando você fala em voz alta o nome de um objeto, você tem mais probabilidade de identificar esse objeto. Talvez por isso a gente tenha o costume de andar pela casa falando em voz alta  “cadê a minha carteira… a carteira… onde está a carteira hein? Onde eu deixei a carteira?” Ao falar em voz alta a palavra “carteira”, eu aumento meu foco para identificar onde a carteira está.

Frases motivacionais ajudam mais do que frases neutras.

O cansaço e a dor percebidos reduzem a sua performance física, se você está numa prática esportiva ou fazendo teste de resistência. Será que se você ouvir frases motivacionais o seu cérebro vai então ter mais resistência para lidar com o cansaço?

Existe um experimento sobre performance física em que os cientistas separaram voluntários em grupos para testar o impacto das frases motivacionais.

Os dois grupos de voluntários tinham que pedalar uma bicicleta ergométrica com o máximo de esforço. Um grupo ouvia frases neutras e outro grupo ouvia frases motivacionais.

O resultado? O grupo que ouviu frases motivacionais teve maior rendimento do que o grupo que apenas ouviu frases neutras. Entendeu? Seria mais ou menos como você pegar dois atletas igualmente preparados, um ouvindo um audiobook de economia e outro ouvindo um audiobook motivacional e provavelmente quem está ouvindo o áudio motivacional conseguiria se esforçar mais e ter melhor rendimento.

Por causa disso, não faz muito sentido você engajar em linguagem negativa ou derrotista, como por exemplo dizer em voz alta, ou até mesmo em pensamento silencioso, coisas como “Eu sou um idiota mesmo, nunca vou conseguir, melhor eu desistir agora antes de causar problemas ou passar vergonha na frente dos outros”.

FOCO aula Arata Academy - Seiiti Arata

É importante você se referir a você mesmo na terceira pessoa para ter uma nova perspectiva.

Eu falei sobre isso no episódio anterior. Falar sozinho pode aumentar a sua confiança e motivação e isso é ainda mais forte quando você fala na terceira pessoa.

Quando o Pelé diz para ele mesmo “Agora o Pelé vai fazer o drible. Ótimo. Agora o Pelé vai chutar pro gol”, o Pelé está falando com ele mesmo na terceira pessoa. Vários outros atletas são conhecidos por se referirem a si mesmos na terceira pessoa, como também Andre Agassi, que na sua autobiografia diz que o tênis é o esporte em que o atleta mais fala sozinho do que em qualquer outro. 

É comum ouvir ele dizendo na quadra “Vamos lá, André, vamos sacar agora com força e precisão”. Será que esta técnica funciona para você se motivar e aumentar a sua performance? A resposta é sim.

Falar de você mesmo na terceira pessoa aumenta o autodistanciamento, o que pode aumentar sua capacidade de olhar para uma situação por uma perspectiva diferente e com menos viés individual.

Você não precisa ser um atleta de alta performance nem ser uma pessoa narcisista para se referir a você mesmo na terceira pessoa. Existe uma conhecida entrevista em que a Malala usa a terceira pessoa para responder uma pergunta sobre o que ela faria numa situação de perigo. Experimente o uso intencional da terceira pessoa e você pode ganhar um novo ponto de vista e se questionar melhor. 

Você se concentra melhor quando consegue falar sozinho. (147) - Seiiti Arata, Arata Academy

Você pode usar seu nome para se acalmar.

Imagine que você está fazendo parte de um experimento científico. O cientista te mostra uma imagem altamente perturbadora em uma situação de perigo de vida, como por exemplo um assassino apontando uma arma para você. O cientista pede para você falar sobre a imagem e como você se salvaria… usando a primeira pessoa.

Você teria que dizer algo como “eu tentaria desarmar ele”, “eu sairia correndo em ziguezague”, “eu choraria e imploraria para poupar a minha vida”. Em qualquer caso, provavelmente você continuaria perturbado e em estado de estresse. 

Agora, se o cientista pedisse que você falasse em terceira pessoa, o seu envolvimento emocional para a situação seria menor. Como o meu nome é Seiiti, então eu diria “O Seiiti vai usar uma técnica de negociação para mudar a atitude do assassino”, “o Seiiti vai dar um golpe na garganta do assassino”. 

Falar na terceira pessoa usando o seu nome ajuda você a tomar decisões mais racionais. Comparando com a fala em primeira pessoa, os sinais elétricos do seu cérebro indicam que você está muito mais tranquilo quando falar com você mesmo na terceira pessoa usando o seu nome

Essa descoberta indica que você pode superar situações de fobia e estresse ao usar seu nome. Se o seu nome é Alex, em vez de pensar “eu não preciso ter medo de entrar no avião”, você pode pensar “ok, Alex, você não precisa ter medo de entrar no avião”. E para melhorar ainda mais, você pode reformular a frase para um tom positivo, removendo a palavra “medo” dizendo “Alex, o avião é seguro e passa por várias inspeções e você pode entrar tranquilamente”.

Eu ensino esta técnica dentro do curso FOCO, em que explico a técnica de você adotar a perspectiva de um cinegrafista que está filmando a sua própria vida. Você assim ganha uma nova visão com o distanciamento necessário para ter uma melhor avaliação e decisões.

Provavelmente você mesmo já se encontrou em algumas raras situações falando com você mesmo na terceira pessoa. Isso é normal e não precisa  ter vergonha ou se assustar. É apenas um modo diferente de pensar que pode te ajudar.

Diferentes maneiras de falar sozinho acionam diferentes caminhos de pensamento no seu cérebro, especialmente no córtex cerebral (que cuida de funções mais desenvolvidas, como a linguagem) e também nas amígdalas cerebelosas (que cuidam de funções mais primitivas, como o medo). 

Basicamente, ao se referir na terceira pessoa você ganha um auto distanciamento maior e isso te proporciona maior autocontrole, e uma performance mais competente e pensamento mais claro. Pense num jogo de videogame. Você não é o personagem que está ali no meio do jogo. Você é a pessoa que está com o controle na mão movendo o personagem.

Então, como conversar sozinho? Você precisa fazer três coisas importantes: primeiro, precisa usar seu nome para ganhar um distanciamento e uma perspectiva mais objetiva da situação. Segundo, deve ser preciso e específico sobre que tipo de ação você deve realizar. Terceiro, deve usar afirmações positivas para entender o contexto maior de quem você é diante da situação. Como presente adicional para você que tem o costume de ficar até o final, vou te dar um exemplo bem prático.

Sinais elétricos do cérebro indicam que você fica muito mais tranquilo quando fala com você mesmo na terceira pessoa usando o seu nome. (147) - Seiiti Arata, Arata Academy

Imagine que você se chama William e vai fazer uma entrevista de emprego e está se sentindo nervoso. Você pode usar este seguinte modelo:

– William, você pode ficar calmo. Não é a primeira entrevista de emprego, e nem será a última. Existem muitas oportunidades. Esta entrevista é para uma empresa que é muito boa e o salário é ótimo, mas você pode respirar tranquilo pois a melhor coisa a fazer é ser calmo e profissional. Você tem todas as habilidades técnicas necessárias e é um profissional com integridade e leal, o que é importante em cargos de direção. William, lembre também de contar como você gerenciou o projeto de internacionalização na outra empresa no ano passado. Mesmo que eles escolham outro, você terá feito uma ótima apresentação e eles vão lembrar de você.

Perceba neste exemplo que o William usou o próprio nome para ter distanciamento emocional e ficar mais calmo, o que é um dos principais objetivos buscados. Ele fez afirmações positivas sobre as qualidades profissionais que ele possui. E ele foi específico para destacar ações úteis a fazer, como mencionar um caso prático em que ele atuou para gerenciar um projeto especial. Este é um exemplo que você pode adaptar para qualquer desafio que você tem adiante.


Você precisa aprender a controlar seus próprios pensamentos para poder viver melhor. No curso FOCO nós ensinamos você a ter maestria no seu próprio modelo cognitivo, se concentrando naquilo que realmente importa – por isso te convido a iniciar seu processo de melhoria visitando o link aqui.