Da independência para a interdependência

Aqueles que assistiram ao filme Clube da Luta devem ter se surpreendido com as mudanças radicais que o narrador vive. Uma das cenas marcantes é quando o narrador, na introdução, folheia um catálogo de móveis da loja Ikea e se pergunta qual a melhor mobília que definiria sua identidade. Esta é a fase de dependência. Porém, a sua “independência” é marcada com uma auto-sabotagem em que explode seu apartamento e todos os móveis, buscando um novo estilo de vida em que não mais dependa do consumismo. É um exagero na busca da independência.

Stephen Covey, em Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes (link afiliado) faz um alerta sobre esse risco: ao perceber que somos altamente dependentes, uma forte reação pode acontecer com o desejo extremado em direção à independência, com resultados patológicos.

Nessa linha, outro filme que mostra a euforia da busca da independência é Thelma & Louise, em que duas amigas saem juntas para dançar. Thelma, embriagada, conhece um homem e é quase estuprada no estacionamento, sendo salva por Louise, que o mata com tiros. A partir daí uma série de eventos se sucede e a dupla de amigas se envolve cada vez mais em problemas: ao invés de colaborar com a polícia ou buscar ajuda de pessoas confiáveis, elas se transformam em fugitivas e se envolvem com um ladrão, que as ensina a roubar lojas de conveniência.

Na linguagem comum, a independência extrema é “chutar o balde”, se libertar de problemas e visões limitadoras. A independência, comparada à dependência, é um bom progresso, mas não deve ser considerado o mais supremo objetivo.

A vida, para Covey, é altamente interdependente. Buscar a independência de tudo e de todos é uma evolução do ponto de dependência, mas somente serão grandes líderes aqueles que souberem o valor do trabalho em grupo, da cooperação.

O interdependente é, então, aquele indivíduo maduro, que não apenas não depende de outros para conseguir o que deseja mas que além disso sabe aproveitar ao máximo o valor que a colaboração pode trazer, alcançando resultados ainda maiores. É aquele que, apesar de não precisar de validação externa sobre a sua forma de vestir para ter um mínimo de auto-estima, sabe que em determinados eventos sociais um determinado traje é mais adequado, e não se importa em seguir a etiqueta para que possa interagir melhor com o grupo. O interdependente emocionalmente é aquele que tem grande amor próprio e que sabe também a importância de dar carinho e apreciar os outros, além de receber positivamente críticas e elogios a respeito de sua pessoa.

Portanto, Covey divide seus sete hábitos em duas grandes categorias: os hábitos 1, 2 e 3 são voltados à automaestria. Os três primeiros hábitos (Ser proativo / Começar com o fim em mente / Primeiro o mais importante) buscam alçar o indivíduo da dependência para a independência.

Os hábitos 4, 5 e 6 (Pensar ganha-ganha / Primeiro entender… e depois ser entendido / Sinergia) são os hábitos de trabalho em equipe, cooperação e comunicação.
E o sétimo hábito? O sétimo hábito é um hábito de renovação, que será trabalhado adiante. Por enquanto, o mais importante é o entendimento dos conceitos de dependência, independência e interdependência