As pessoas abusam da sua generosidade?

Oi! Seiiti Arata. A generosidade inadequada pode causar raiva ou ressentimento por causa de abusos. Você sabe dosar corretamente a sua generosidade? O que você faz quando alguém tenta se aproveitar da sua boa vontade?

Em geral, ser uma pessoa generosa e com vontade de ajudar é algo muito bom. Quem tem generosidade geralmente consegue construir bons relacionamentos e alcançar felicidade e prosperidade.

Nas empresas, a generosidade também é útil. Empresas que possuem uma cultura de contribuição possuem times mais unidos e que trabalham melhor. A generosidade traz melhores resultados corporativos.

Mas será que ser generoso demais pode acabar prejudicando você? Será que não existem momentos em que nos dedicamos tanto a outras pessoas que acabamos esquecendo de nós mesmos? Será que ao tentar ajudar algumas pessoas nós não acabamos atrapalhando o desenvolvimento delas?

Cuidado em não tirar a oportunidade das pessoas se desenvolverem

Quando você usa sua generosidade de forma errada, você pode tirar a oportunidade das pessoas se desenvolverem. Por exemplo, imagine que você é um generoso professor. Você quer ajudar os seus alunos a terem sucesso acadêmico e profissional. Você entrega a melhor aula possível e faz tudo o que a direção da escola pede. 

Quando a aula termina, depois de cumprir todas as suas obrigações, você diz que está disposto a também responder qualquer pergunta adicional que seus alunos tenham. Você fica até mais tarde na escola, mesmo sem receber nada a mais por isso. 

Alguns alunos aproveitam esta oportunidade e começam a pedir que você ajude eles a fazer atividades que não fazem parte de sua responsabilidade enquanto professor. Por exemplo, eles pedem que você ajude a fazer requerimentos para conseguir bolsa de estudos, revisar currículos para emprego e até mesmo ajudar a fazer trabalhos de outras matérias. Nada disso faz parte de sua responsabilidade como professor. Porém, incapaz de dizer não aos pedidos, você fica até tarde na escola ajudando os alunos com todo tipo de situação.

Olhando por um lado, você está praticando generosidade. Mas olhando por outro lado, você pode estar impedindo os alunos de aprenderem coisas novas. Ao fazer o trabalho pelos alunos, você está tirando a oportunidade de eles se desenvolverem. 

Professores que ajudam sem estabelecer um limite de proteção acabam sendo professores que no fim das contas têm pior nível de aprendizado de seus alunos. 

Mas apesar da boa intenção, os estudantes acabam sem ter um bom rendimento. Será que neste exemplo você realmente está ajudando ou está no final das contas atrapalhando a capacidade dos alunos de aprenderem a resolver problemas por conta própria? 

O caso do professor que faz mais do que deveria é apenas um exemplo. Pense na sua vida e nas vezes que você ajudou em situações que você não deveria. Será que você também não tirou a oportunidade das pessoas aprenderem algo útil por conta própria? 

Para ser capaz de praticar a verdadeira generosidade a longo prazo, primeiro cuide de você

Além de tirar a oportunidade das pessoas se desenvolverem, existe outro risco da generosidade mal aplicada. O exagero de generosidade pode estar sacrificando sua saúde, seu lazer e seu descanso, se você acaba trabalhando além do recomendável. E esse sacrifício todo no futuro vai trazer problemas para você.

Generosidade equilibrada acontece quando você ajuda os outros sem prejudicar a sua própria saúde. (130) - Seiiti Arata, Arata Academy

Por isso, cuidado quando você está ajudando os outros sem estabelecer limites saudáveis para sua generosidade. 

A intenção é nobre, de querer ajudar a qualquer custo, incluindo sacrifício de tempo pessoal, passando noites e fins de semana trabalhando a mais para poder atender a todos os pedidos. 

Nos nossos treinamentos eu falo em mais detalhes sobre a “Síndrome do Super Herói”. Basicamente, é um erro achar que ser generoso significa estar disponível 24 horas por dia, sete dias por semana. Você não precisa e nem deve tentar agir como um super herói. Ser generoso de forma equilibrada significa saber dosar as coisas e respeitar limites saudáveis para cuidar tanto dos outros quanto de si mesmo. 

Para ser generoso a longo prazo, entenda que o auxílio que você oferece a outros somente pode existir quando você se mantém saudável. 

Um exemplo clássico desse princípio é quando você está no avião. O procedimento de segurança é que em caso de emergência você primeiro coloque a máscara de segurança em você mesmo e só depois ajude quem está ao seu lado. Você tem que estabelecer limites para ajudar os outros sem prejudicar o seu próprio nível de saúde e bem estar.

Caso contrário, com o passar do tempo você pode ficar esgotado física e mentalmente. Pode até acabar com ressentimento de estar ajudando todo mundo a todo tempo, sentindo que algumas pessoas estão abusando da sua generosidade. 

Isso piora ainda mais quando você percebe que o seu esforço não está dando bons resultados. 

Na área de saúde, por exemplo, é comum ver médicos sofrendo fadiga de compaixão ao tratar pacientes que não conseguem melhorar.

Ao ver tanto sofrimento e ter compaixão, o profissional de saúde pode sofrer muito. Este sofrimento pode chegar a ponto de se distanciar emocionalmente dos pacientes, ter uma crise pessoal ou até mesmo pensar em abandonar a profissão.

Para evitar situações desse tipo, você precisa entender a dinâmica da generosidade e saber dosar os limites da sua ajuda.

Como Dizer Nao Seiiti Arata, Arata Academy

Você precisa definir os limites da sua generosidade

Para entender a dinâmica da generosidade, vamos usar um conceito do livro Dar e Receber, do Adam Grant, que divide as pessoas em três grupos de acordo com sua capacidade de oferecer ou pedir ajuda. Os três grupos são os dos tomadores, compensadores e doadores.

Os tomadores (ou “takers” em inglês) são  as pessoas que possuem seu foco no que elas podem obter de um relacionamento, que estão buscando sempre maneiras de subir na carreira e ter benefícios.

O tomador é aquela pessoa que vai abusar de você caso você não se proteja. O tomador não respeita seus limites e vai pedir sua ajuda para que você faça o trabalho por ele.

Existem também pessoas que buscam uma maneira equilibrada de dar e receber ajuda. Esses são os compensadores, ou “matchers”, pessoas que sempre esperam ter reciprocidade.

Os compensadores trocam favores. Eles dão tanto quanto recebem e sempre esperam que essa troca ocorra. Existe um aspecto transacional. 

Quem é compensador se sente desconfortável ou até evita receber benefícios quando percebe que não pode contribuir de volta. Assim os compensadores conseguem se proteger dos tomadores, pois em determinado momento passam a evitar o convívio desequilibrado.

Você precisa definir limites para a sua própria generosidade (130) - Seiiti Arata, Arata Academy

Por fim, existem os doadores ou “givers”, pessoas que têm foco em dar independentemente do que vão receber em troca. São aqueles ajudam sem esperar nada em troca.

Dentro do grupo dos doadores, existem dois subgrupos: os doadores conscientes, que definem limite para a própria generosidade, e os doadores que estão sempre ajudando os outros incondicionalmente e até com sacrifício pessoal. 

Os doadores conscientes entendem as necessidades e limites próprios e também ajudam as outras pessoas de forma equilibrada. Os doadores entendem a importância de ter tempo pessoal para cuidar de si mesmos. Esse subgrupo de doadores é generoso mas tem consciência dos próprios limites. 

Com assertividade, os doadores conscientes dizem não quando estão numa situação que não é sustentável. Isso é o que ensinamos no curso Como Dizer Não, que você pode conhecer acessando o endereço.

Já o subgrupo dos doadores que não definem limites é formado por pessoas que estão sempre ajudando incondicionalmente e com sacrifício pessoal. Os doadores ilimitados estão sempre querendo ajudar os demais, mesmo que isso custe a própria saúde. E algumas pessoas acabam abusando de tanta generosidade.

Por isso é preciso ter cuidado ao ser um doador ilimitado. Ajudar os outros e esquecer de si mesmo não é uma maneira saudável de viver a vida a longo prazo. Com o passar do tempo, o sacrifício pessoal cobra o preço, seja em forma de desgaste pessoal, esgotamento ou ressentimento. 

O problema dos doadores ilimitados é o baixo nível de consciência das próprias necessidades. Tomadores percebem essa falta de consciência e acabam abusando da generosidade dos doadores ilimitados, fazendo com que os doadores trabalhem enquanto os tomadores descansam.

Doadores sem limites ignoram as próprias necessidades durante tanto tempo até o momento em que finalmente percebem que estão sendo desrespeitados e ficam exaustos ou raivosos. 

Se ficam exaustos, os doadores já não conseguem mais ajudar os outros. Se ficam raivosos, os doadores criam um tipo de conflito de relacionamento e se afastam ou brigam, o que também prejudica o objetivo final de poder ajudar.

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Relacionamentos entre quem só quer dar e quem só quer receber tendem a ser problemáticos

Um tipo de dinâmica que precisa ser observada é quando uma pessoa com o perfil tomador está em um relacionamento pessoal ou profissional com uma pessoa com o perfil doador. Esse relacionamento entre tomadores e doadores tende a chegar a um extremo em que problemas podem acontecer. 

Uma solução para esse tipo de problema dentro de empresas é tentar reeducar ou simplesmente se livrar das pessoas que têm o perfil de tomadoras. Trabalhadores que querem apenas sugar valor têm um alto risco de demissão ou estagnação na carreira.

Em breve nós vamos fazer algumas críticas a esse tipo de teoria, mas eu já vou adiantar um pouco algumas perguntas. Será que devemos simplesmente descartar pessoas com perfil tomador? Será que não podemos ser generosos e buscar maneiras para que essas pessoas percebam suas falhas e assim possam melhorar? 

Tente se colocar no lugar de quem é rotulado como tomador. Já pensou se você fosse removido de uma equipe por que você foi injustamente classificado como um tipo de pessoa que está sempre sugando? Será que não falta um pouco mais de treinamento ou uma conversa mais honesta e franca para que você percebesse o que você poderia fazer de melhor?

Pratique sua generosidade de forma equilibrada

Uma maneira simples de evitar que outras pessoas abusem da sua generosidade é reservar um tempo específico para contribuir com a vida de outras pessoas e manter outros blocos de tempo específicos para cuidar mais de você. 

Existe um experimento sobre generosidade que dividiu os participantes em dois grupos.

Um grupo fazia uma pequenina contribuição rápida todo dia na vida de outras pessoas, cinco dias por semana. Outro grupo escolhia um dia específico da semana para fazer várias contribuições na vida de cinco pessoas. 

O grupo que juntou todas as contribuições em um único dia por semana é o que teve mais felicidade. Ou seja, ajudar várias pessoas em um único dia traz mais satisfação pessoal do que ajudar poucas pessoas todo dia.

Isso acontece porque se você dedicar alguns minutinhos a cada dia para ajudar outros, isso não chega a ser algo que tem um impacto significativo na maneira como você percebe sua própria generosidade. 

Mas se você ajuda várias pessoas em um único dia, é maior a chance de você perceber a sua generosidade e essa felicidade vai se perpetuar pela semana toda. 

Por causa disso, uma recomendação científica é você escolher um dia da semana para ajudar de uma vez todo mundo que precisa, em vez de todo dia ajudar os outros um pouquinho.

Tomadores são pessoas que sugam sua energia sem oferecer nada em troca. Compensadores são os que esperam algo em troca. E doadores são os que ajudam sem esperar nada em compensação. Qual desses perfis é o seu? (130) - Seiiti Arata, Arata Academy

Outra dica é você priorizar. Alguns dos pedidos que chegam a você podem ser resolvidos pela própria pessoa que pede, se ela fizer um pouco de esforço a mais. Isso faz com que as pessoas aprendam resolver seus problemas de maneira independente.

Escolha ajudar apenas nos casos em que a sua contribuição pessoal é mais necessária ou em situações que realmente sejam mais importantes. E procure sempre orientar a pessoa a se tornar mais auto suficiente no futuro. Ou seja, dê o peixe mas também ensine a pescar.

Procure também ser produtivo. Em vez de você ajudar uma única pessoa por vez, veja se não existem maneiras de você juntar mais de uma pessoa no mesmo ambiente e quando você ajudar uma, todas acabam recebendo o benefício. Ou uma pode primeiro aprender e depois ajudar a outra, multiplicando o conhecimento.

Também é importante prestar atenção ao tipo de pessoa que você anda ajudando. Essas pessoas são merecedoras da sua ajuda ou estão apenas se aproveitando da sua generosidade?

Você pode até pensar que todos os seres humanos são merecedores de compaixão. Mas lembre que o seu tempo é limitado. Quando você está ajudando alguém que só quer se aproveitar de você, está deixando de ajudar alguém que teria uma intenção melhor.

Por isso, preste especial atenção para detectar tomadores, bajuladores e outros tipos de pessoas que talvez mereçam menos da sua atenção.

A pessoa que pede sua ajuda de forma saudável é aquela que entende que ela está tomando seu tempo e por causa disso vai tentar ser o mais eficiente possível, respeitando seu esforço e pedindo ajuda em alguma coisa muito específica e depois de ela já ter se esforçado o suficiente para resolver os problemas por conta própria. 

A pessoa que é tomadora não entende ou não respeita isso. O tomador quer que você atue imediatamente e faça exatamente aquilo que é pedido, muitas vezes fazendo o trabalho que não é seu. 

O perfil tomador não é flexível para se ajustar às suas possibilidades. Pelo contrário, uma pessoa tomadora deseja que você seja flexível para atender as necessidades dela. 

Quando você percebe sinais como esses, é necessário ter assertividade e saber dizer não. Defina seus limites. Por exemplo, você pode seguir um perfil compensador e exigir que para que você ajude, a pessoa faça algo em troca ou para você ou para outros. 

Precisamos também aumentar o nosso nível de consciência e de presença plena. Quando nós conseguimos entender qual é o nosso estado emocional e como nós estamos nos sentindo, podemos compreender melhor o equilíbrio necessário para ajudar os outros sem grandes sacrifícios pessoais. 

Cuidado ao rotular pessoas como tomadoras, compensadoras ou doadoras

Uma crítica necessária com relação aos rótulos de pessoas tomadoras, compensadoras ou doadoras é que a prática nunca é tão simples quanto a teoria.

Dependendo do momento, dependendo do contexto, dependendo do histórico que eu tenho com uma determinada pessoa, vou acabar me comportando ou de maneira a dar mais ou procurar receber mais. 

Se você busca ajudar os outros ao custo da sua própria saúde, logo não conseguirá ajudar mais ninguém e ainda se tornará a pessoa que necessita de ajuda. (130) - Seiiti Arata, Arata Academy

Eu posso ser um tipo de pessoa generosa financeiramente que está sempre dando e ao mesmo tempo dentro de um relacionamento amoroso eu posso ser o tipo de pessoa que está constantemente buscando receber. 

Por causa disso, a ressalva é que esse modelo de dividir pessoas em três grupos é apenas uma simplificação para facilitar o entendimento. Mas a simplificação não deve ser tanta a ponto de prejudicar a prática da generosidade. Se você sai classificando todo mundo como tomador e acaba sem ajudar ninguém, talvez o problema não esteja exatamente nas outras pessoas.

Cada pessoa tem uma própria narrativa que explica suas próprias ações. Se eu consigo estabelecer uma conversa honesta com alguém que é considerado um tomador, talvez possa entender o que faz essa pessoa ser assim. E com esse entendimento eu posso tentar ajudar de maneira mais profunda, talvez auxiliando a pessoa a mudar de comportamento.

Uma segunda crítica é que nós infelizmente temos uma baixa capacidade de autoavaliação. Praticamente todo mundo que escuta esse tipo de conversa vai dizer que é do tipo de pessoa que é generosa, que é doadora. São raras as pessoas que vão dizer que são tomadoras, que são do tipo de pessoas que querem obter ajuda a todo custo.

O motivo sincero pra isso é que é difícil para nós percebermos os nossos próprios erros. Admitir nossas falhas de caráter. Então, reflita um pouco antes de rotular a si mesmo e a outras pessoas.

Para fazer uma melhor autoavaliação, busque a opinião anônima de outras pessoas. Você pode por exemplo enviar para conhecidos um link para um formulário anônimo em que seus amigos, colegas ou familiares podem dizer pra você o que pensam a respeito do seu comportamento. Pergunte se eles acham se você dá mais do que recebe ou se quer sempre receber mais do que está disposto a dar. Esse feedback anônimo ajuda você a ter uma maior proximidade com a realidade. 

Ter compaixão e generosidade é uma excelente característica pessoal. Ajudar os outros nos tira do modo de pensar egoísta e muitas vezes nos faz perceber como nossos problemas são pequenos quando comparados aos de outras pessoas, o que diminui o nosso próprio sofrimento. Ao ajudar os demais nós quase sempre acabamos ajudando a nós mesmos.

Isso não significa que a generosidade deve ser ilimitada. Quem sacrifica o cuidado com si mesmo para ajudar todo mundo, logo logo não vai ter saúde, tempo ou recursos para ajudar mais ninguém.

Se você não se proteger primeiro e definir limites para sua generosidade, o seu hábito de ajudar pode fazer com que você fique sobrecarregado e prejudique a sua qualidade de vida. Assim, em vez de conseguir ajudar os outros, você vai acabar se tornando a pessoa que necessita de ajuda.

A palavra-chave da nossa conversa de hoje, portanto, é equilíbrio.

Agora, todos nós sabemos como é difícil negar ajuda a alguém que está passando por alguma necessidade. Saber dizer não com certeza é algo difícil, mas como toda habilidade, é algo que pode ser aprendido. 

Caso você sinta que precisa de mais tempo na sua vida, que está sobrecarregado ou que algumas pessoas abusam da sua generosidade, venha conhecer o nosso treinamento online Como Dizer Não, acessando o link aqui.