Os picaretas da auto-ajuda e a história dos alunos de Yale

Cuidado com auto-ajuda: existe muita tapeação no mercado. Conheço pessoalmente diversos autores que começaram a escrever sobre auto-ajuda pelo fato de eles mesmos precisarem de uma solução para os problemas pessoais.

Nada de errado até aí.

Lembro que, anos atrás, no meu treinamento de coaching que fiz na Europa com a Erickson International, um terço do grupo era de diretores de empresa que pretendia usar o treinamento para performance de equipe… um terço era de gente que desejava seguir a carreira e o outro terço era simplesmente de gente que estava lá por razões super pessoais (se recuperar de uma perda pessoal, lidar com inseguranças e medos, encontrar um propósito) .

E, de novo, não existe nada errado com isso. Inclusive, é bom que a pessoa esteja procurando diferentes métodos para alcançar o que deseja na vida.

Mas o que eu acho bem chato é que existem pessoas que não alcançaram nada ainda… e já querem sair ensinando. É gente assim que dá força ao “quem sabe faz… e quem não sabe, ensina”.

Picaretas da auto-ajuda

Por exemplo, na área de relacionamentos, o que tem de homem virgem querendo ensinar táticas infalíveis de sedução para outros adolescentes não cabe neste post – vai dar bug na página se eu tentar listar todos os casos que conheço.

É por causa disso que eu sempre leio os livros, ouço audiobooks e participo de treinamentos ao vivo e online com uma visão bastante crítica, até poder conhecer melhor o tal “guru” e saber se ele é sólido no que diz, ou se é um papagaio que repete mitos urbanos sem fazer uma pesquisa decente.

Aqui vai uma dica para detectar um picareta:

Ele conta a história dos estudantes de Yale com objetivos na vida.

Isso aqui merece um post separado, mas rola uma lenda urbana de que em 1950 e bolinha, foi feita uma pesquisa na prestigiada Universidade de Yale para ver quais alunos tinham objetivos claros na vida. Era algo como 3% do total de alunos.

Vinte anos depois, os pesquisadores procuraram todos os alunos e verificaram que esses 3% de alunos tinham um patrimônio financeiro maior do que o resto de 97% de alunos… combinado!

Uau – parece uma história incrível e excelente para ilustrar a idéia de que é importante ter objetivos grandes na vida

… o único pequeno detalhe é que essa história não aconteceu no mundo real. É uma lenda urbana que circula no universo dos gurus picaretas de auto-ajuda que repetem conhecimentos sem fazer uma pesquisa séria.

No momento que deixa de ser um blog pessoal ou o hábito de contar historinhas inspiradoras para amigos em um evento social… e se passa a vender livro, cobrar por palestra e treinamento, esses gurus estão prestando um grande desserviço a todo mundo. Às pessoas que confiaram neles, e aos profissionais sérios que procuram apresentar informações sólidas, científicas ou comprovadas de que é possível modificar nossas ações para alcançar resultados diferentes.

Por exemplo, quem faz isso muito bem é o Malcolm Gladwell. É um autor que pesquisa a fundo diferentes histórias que não tem conexão aparente, descobre um padrão e em alguns casos faz uma afirmação mais contundente, como a teoria do Tipping Point… ou em outros casos deixa aberto quando é que a teoria se aplica ou não, como no livro Blink: algumas vezes devemos confiar na nossa intuição e outras vezes isso pode ser fatal.

Não é somente em círculos de auto-ajuda com direito a incenso queimando e pensamento positivo para que o Universo traga fortuna que isso acontece. No meu trabalho na ONU, vejo diariamente pessoas que não possuem solidez profissional, e só vão para as conferências para aproveitar as viagens custeadas por algum governo ou fundação, repetindo um monte de jargão que não significa absolutamente nada, como “precisamos de novas soluções para novos problemas”.

Que outros clichês, jargão vazio e mitos urbanos você vê sendo repetidos toda hora?