A moldura de percepção da realidade

No post anterior, ilustramos, com o caso da morte da modelo brasileira Ana Carolina Reston, a importância do auto-conhecimento e da moldura através da qual nossa realidade é percebida.

A nossa moldura, diz Steven Covey no livro Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes (link afiliado), é influenciada por diversos condicionamentos, como a família, escola, igreja, ambiente de trabalho, amigos, associados e paradigmas sociais como a Ética da Personalidade. Todas elas criam um impacto silencioso em nós e colaboram para dar forma à nossa moldura de referência, nossos paradigmas.

Para aqueles que não se convenceram do argumento de Covey, uma pesquisa do canal de televisão infantil Nickelodeon é bastante ilustrativo:

Estou seguro? Do que tenho medo?

(…) A globalização e a exposição a um grande número de informações vindas dos meios de comunicação tornaram as crianças mais expostas a perigos que não fazem parte do seu dia-a-dia.

Fatos distantes de sua realidade acabam por gerar medos e inseguranças desnecessários e extremamente maléficos a seu equilíbrio emocional. De todos os países pesquisados, as crianças brasileiras são as mais preocupadas do mundo com a sua segurança – 75%. A Indonésia vem em segundo lugar, com 68%, e a África do Sul em terceiro, com 67%. As crianças que menos se preocupam com segurança são as da Inglaterra (19%), da Dinamarca (17%), dos Estados Unidos (16%) e da Suécia (9%).

O maior medo das crianças no mundo é o da morte dos pais. No Brasil, esse medo está acima da média dos países pesquisados. A Indonésia lidera o ranking com 100%, seguida de Brasil, México e África do Sul, com 98%. As dinamarquesas são as que menos medo têm da morte dos pais (81%).

Além da pesquisa do Nickelodeon, existem diversas outras que indicam que aqueles que assistem muitas horas de televisão e filmes violentos tendem a perceber o mundo como um local perigoso.

Não apenas pelo ponto de vista da violência: o filme Dove Evolution, em apenas 1 minuto de vídeo, sintetiza esses conceitos da moldura da realidade com a frase “não é à toa que nossa percepção de beleza está distorcida” (no original, “no wonder our perception of beauty is distorted“).

Toda a nossa percepção é, assim, influenciada por fatores externos. Não vemos o mundo como ele é, mas sim como nós somos. Isso quer dizer, em outras palavras, que percebemos a nossa realidade através de nossa moldura, que, por sua vez, pode ter grande influência externa da mídia e círculos sociais.

A série The Century of the Self, da BBC, é outra excelente fonte que mostra como somos influenciados diretamente em nosso inconsciente a adotar determinadas crenças e despertar certos desejos.

Tudo isso faz parte de uma crítica fundamental à Ética da Personalidade, aquela que focaliza em fornecer técnicas rápidas que prometem melhorar o desempenho social de um indivíduo com soluções rápidas, o “quick fix”.

A mudança direta de comportamento e atitude não é efetiva a longo prazo se não forem examinados os elementos fundacionais sobre os quais as atitudes e comportamentos se baseiam. É necessário ter congruência.

O desfecho desta importante parte inicial do livro de Covey é que quanto maior ciência tivermos de nossos paradigmas e a dimensão de quanto eles afetam nossa experiência, maior será a nossa responsabilidade pelos paradigmas adotados, bem como seu exame e teste contra a realidade. Isso permite a comparação com outras percepções e pontos de vista, favorecendo uma visão maior e mais objetiva.